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Palabra del Ejército Zapatista de Liberación Nacional

Ago042024

Suponhamos, sem admitir…

Suponhamos, sem admitir…

Suponhamos, sem admitir, que você pode imaginar o seguinte:

Você nasceu em um povo originário. Em uma comunidade adquiriu sua língua, sua cultura, seu modo de vida. Tudo isso o torna diferente. Para a antropologia oficialista, sua língua é um “dialeto” e seu povo é uma “etnia”. Você é o que os progressistas chamam de “um índio”. Não importa a cor da sua pele, porque assim que começar a falar, perceberá o gesto de desprezo do seu interlocutor não-indígena. Verá, também, como essa pessoa leva instintivamente a mão ao bolso para lhe dar uma moeda. Essa pessoa presumirá que você é inferior, ignorante, sujo, pobre, supersticioso, manipulável… e estúpido. Mas, fazer o que, foi assim que você nasceu. Não importa o que faça, nada mudará essa atitude do outro. Assim como culturalmente se é indígena, também se é racista por cultura, mesmo que seja um racismo “cool”.

Agora suponhamos, sem admitir, que seu povo originário, sua língua, sua cultura, seu modo de ser, é o Cho’ol, povo de raiz maia, que habita os estados do sudeste mexicano de Chiapas, Tabasco e Campeche.

Suponhamos, sem admitir, que, como todos os povos originários, você sofreu desprezos, racismo, injustiças, agressões, enganos e zombarias – além, claro, de desaparecimentos forçados, prisões, violações e assassinatos – só por ser quem é: um indígena Cho’ol.

Suponhamos, sem admitir, que você sabe que uma parte dos povos originários em Chiapas, incluindo o povo Cho’ol, faz parte de uma organização chamada «e-zê-ele-ene» (também conhecida como “os zapatistas de Chiapas” ou “neozapatistas”, ou “transgressores da lei” ou o que esteja na moda), que se levantou em armas em 1º de janeiro de 1994, no que chamaram de “o início da guerra contra o esquecimento”, e assim acabou com o plano de Carlos Salinas de Gortari de um Poder transexenal (antes era o sonho molhado do salinismo, e agora o é do morenismo*).

Suponhamos, sem admitir, que você não é antropólogo nem historiador oficialistas, ou seja, sabe que, durante séculos, os povos originários foram tratados pela modernidade (governos e etapas distintas mas semelhantes) com uma mistura de nojo e pena. E que sabe que esses povos originários existem, vivem e lutam além de livros, museus, destinos turísticos, artesanatos e discursos governamentais.

Suponhamos, sem admitir, que você conhece que esses povos zapatistas estão em rebeldia e resistência porque empreenderam o caminho de uma construção terrível e maravilhosa: outro mundo, um onde caibam todos os mundos.

Suponhamos, sem admitir, que você, como Cho’ol, teve o azar de nascer e viver perto da fazenda de um personagem poderoso**.

Suponhamos, sem admitir, que seu nome ou graça é José Díaz Gómez, e está preso em uma cadeia de Chiapas acusado de ser Cho’ol e de… ser zapatista.

Agora, mudando de canal, suponhamos que você pode ter acesso ao que se diz em tribunais, delegacias de polícia e prisões de Chiapas. Não sem pena você ouve o seguinte: “É zapatista, dos que criticam e não apoiam o presidente”. “O chefe vai ficar contente que punimos um dos conservadores que se recusam a ser salvos pela modernidade e pelo progresso (ou seja, a 4T***)”.

Agora, suponhamos, sem admitir, que sua liberdade, você sendo Cho’ol e zapatista, depende de múltiplos fatores: o humor do juiz naquele dia, o ministério público, a polícia, os outros fazendeiros (ou seja, além do que tem sua fazenda em Palenque), a necessidade que têm homenzinhos cinzentos de agradar superiores que nem sabem que eles existem.

Suponhamos que você sabe que uma organização não governamental defensora dos direitos humanos (dessas tão vilipendiadas pelo supremo – junto com trabalhadores da mídia paga–), demonstrou sua inocência, e a parte acusadora nem sequer pode apresentar a mínima prova contra sua liberdade – e de outros companheiros seus que são perseguidos–. Mas é inútil porque você não é inocente dos 2 crimes pelos quais está preso há quase 2 anos: ser indígena e ser zapatista.

Agora, suponhamos, sem admitir, que você vai, simultaneamente, à praça central da Cidade do México e contempla uma estrutura de ferro e papelão que, supostamente, sem admitir, é uma réplica de uma pirâmide do povo maia.

Suponhamos, sem admitir, que você então reflete e conclui que isso é o indigenismo no México: uma simulação de papelão como homenagem a um passado distante (e manipulável na historiografia oficial), e milhares de injustiças “administradas” pelo governo em turno, contra povos originários no presente. Para os governos, os povos originários são a matéria-prima para sua fábrica de desculpas “históricas”… e de culpados.

Agora, suponhamos, sem admitir, que lhe foi encarregado – dada sua capacidade e, sobretudo, pelo fato de não ser um Cho’ol zapatista – dar uma palestra magna, na escola de quadros d’O PARTIDO, chamada “A revolução das consciências na Quarta Transformação”.

Você se sentiria mal? Pelo menos desconfortável? Fora de lugar?

Ou, como a maioria de seus correligionários, diria a si mesmo “tudo pelo bem do movimento e para que a extrema direita não volte”, “os zapatistas tiveram seu momento, mas já estão fora de moda”?

Então, você poderia concluir que, se não fosse indígena, se não fosse zapatista e se não fosse crítico do governo em turno, estaria livre e não teria perdido dois anos de sua vida?

Claro, tudo isso supondo, sem admitir, que você tem imaginação, sensibilidade e senso de justiça.

E, claro, que você não é um sem-vergonha. Ou uma sem-vergonha, (não esquecer a paridade de gênero).

Vale. Saúde e deixem de olhar para cima, a luta pela vida está embaixo.

Desde as montanhas do Sudeste Mexicano.

El Capitán.

Agosto de 2024.

P.S. – Todos os sistemas de justiça “modernos” são irreformáveis. Baseiam-se em uma suposição que é desmentida cotidianamente pela realidade: “todas as pessoas são iguais perante a lei”. E não, porque “quem paga, manda”.

 

 

Comentários da tradução alemã:

(*) Morenismo: Ideologia e política do atual partido governante MORENA. A ela pertencem o atual presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador (AMLO), e sua sucessora na presidência, Claudia Sheinbaum.

(**) Refere-se à fazenda de López Obrador em Palenque, Chiapas.

(***) 4T: a chamada “Quarta Transformação”: as políticas governamentais neoliberais dos últimos 6 anos por AMLO.

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