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Palabra del Ejército Zapatista de Liberación Nacional

Nov262023

DÉCIMA TERCEIRA PARTE: DUAS PARTIDAS DE FUTEBOL E UMA MESMA REBELDIA.

DÉCIMA TERCEIRA PARTE: DUAS PARTIDAS DE FUTEBOL E UMA MESMA REBELDIA.

«O futebol é a continuação da política por outros meios».
Don Durito de La Lacandona («DD», para fins legais).

Novembro de 2023.

I.- Vésperas da Travessia pela Vida – capítulo Europa.

Um desafio de futebol foi recebido de uma equipe feminina da Europa que resiste e luta.

O SupGaleano se autodenominou «treinador» da equipe «Ixchel – Ramona», formada por milicianas. Como deve ser, o Sup estudou a equipe adversária. Reúne as companheiras que farão a viagem. Analisa detalhadamente as habilidades e características de cada uma das jogadoras. Vai até o Subcomandante Moisés e dá seu diagnóstico: «vão nos destroçar». O SubMoy olha para ele com uma expressão de «e daí?», como se já esperasse por isso. Mas o agora finado ainda não terminou: «Mas tenho um plano secreto, como diz a Dení. Com isso, vamos revolucionar o futebol e redefini-lo em sua essência: o jogo».

O Subcomandante Insurgente Moisés, coordenador da turnê, está bastante ocupado com os cursos de preparação, certidões de nascimento, passaportes e o desenho da rota a seguir, então ele deixa o SupGaleano prosseguir «a seu critério». O prospectivo finado sorri e sentencia: «Discrição é meu segundo sobrenome» (não me perguntem qual era o primeiro sobrenome porque seria necessário várias folhas para explicar).

O futuro defunto inicia o treinamento da equipe feminina. Mas, para que sua estratégia tenha sucesso, precisa do apoio do temível, terrível e aterrorizante «Comando Palomitas», que naquele momento estava tentando abrir um buraco no navio-escola onde se preparou o chamado «Esquadrão 421». Desapontados porque, antes de terminar o sapo sob a linha de flutuação, o navio se transformou num imponente avião de dois motores, foram consultar o SupGaleano sobre o que poderiam fazer para incendiar a aeronave. O Sup os convenceu de que não era conveniente queimá-la, que era melhor esperar até que estivesse em pleno voo para derrubá-la de dentro. O amado Amado e o Chinto objetaram: se o avião cair, o Comando Palomitas também cairá. O Sup respondeu que não era hora de se deter em pequenos detalhes. Além disso, o Comando era necessário para uma tarefa mais elevada, valendo a repetição, do que sabotar uma viagem aérea que nem sequer completava o pagamento das passagens, sem falar na falta de passaportes, e que a maioria da chamada «Divisão Aerotransportada La Extemporánea» ficava enjoada no caminhão de transporte.

Reunidos o Comando Palomitas, o Sup, o Tzotz, o Tragón e a Pelusa no bunker ultra-secreto que fica no templo da zona Tzotz Choj, procederam a afinar os detalhes do que, daí em diante, seria conhecido mundialmente como o «Brilhante e Excelso Plano para Derrotar um Rival Melhor Preparado, Treinado e Equipado que Nós» (BEPDRMPEEN, pelas suas siglas em espanhol), subtítulo «E olha que eles têm melhor técnica e domínio de bola».

A reunião top secret seguiu seu curso normal. Ou seja, o Chuy tirou da Lupita o pirulito de chamoy, a Verónica deu um tapa no Chuy e, como se fosse o Supremo Governo, ficou com o pirulito do Chuy, o da Lupita e o seu próprio. O Chinto e o amado Amado insistiam que suas bicicletas haviam quebrado «assim, de repente» e que o Monarca tinha que consertar. A Pelusa, o Tragón e o Tzotz espiavam a mesa à procura de biscoitos, e o Sup dava a aula magistral de «Como ganhar um jogo de futebol com tudo contra».

O aparente caos se acalmou quando o Sup tirou, não se sabe de onde, uma caixa de «Choki La Galleta Diabólica», e só então – depois de devorarem 5 pacotes – foram distribuídas as missões, fez-se o cronograma, e devoraram o sexto pacote «em homenagem aos futuros caídos». «E caídas», sentiu-se obrigado a adicionar o Chuy, apenas para receber da Verónica outro tapa modelo «a igualdade de gênero não se aplica na desgraça». A Lupita aprovou a ação com o pirulito de chamoy que o Sup lhe deu para que parasse de chorar.

Foram então o «três vezes T» Comando Palomitas, o Sup e a ala canina do comando, ao semilheiro e, com as milicianas reunidas, explicaram e praticaram o novo esquema «passivo-agressivo» que, como deve ser, tinha como núcleo protagonico o famoso Comando.

Seguindo a antiga e comprovada regra zapatista de «Não jogue com as regras do inimigo», o Sup desenvolveu uma espécie de mistura de rugby, com dramaturgia do século XIX, com algo de Anime, com cinema muito ao estilo Hollywood esquina com Cannes, com o impressionismo de Monet, um toque de Allan Poe cruzado com Conan Doyle, algo da épica de Cervantes, a brevidade de Joyce, a perspectiva de Buñuel, um toque de Brecht misturado com Beckett, o tempero de uns tacos al pastor, uma cumbia assim bem rebajada – raspadinha, então -, a Anita Tijoux e a Shadia Mansour rompendo fronteiras – Palestina livre -, e, bem, não anotei tudo, mas só faltava a bola.

A estratégia em questão tinha 3 fases:

A primeira era que a Verónica pegava um bonequinho zapatista e se dirigia decidida ao gol adversário, plantava-se diante da goleira inimiga e falava com ela em Cho´ol. A goleira, claro, não entendia nada, mas lá estavam a Lupita e a Esperança Zapatista que traduziam com sinais que a menina lhe dava o bonequinho. E a Esperança, como seu nome indica, oferecia-se para tirar uma foto com a menina e o bonequinho. Para a foto, dizia-lhe para largar a bola, porque a Verónica queria que ela a abraçasse. No momento em que isso acontecia, a Esperança chutava a bola «para o fundo das redes» e toda a equipe gritava «Gol!». Praticaram inúmeras vezes com sucesso. A única coisa que não conseguiram foi fazer com que a Verónica não tirasse o bonequinho da goleira e saísse correndo.

A segunda variante consistia em que a goleira zapatista recebia a bola, colocava-a sob a camisa esportiva, como se estivesse grávida, e começava a caminhar como tal. Toda a equipe zapatista se aproximava para ajudá-la e levá-la aos serviços médicos. Claro, como estavam em território estranho, as companheiras se confundiam e acabavam indo para o gol inimigo, onde, milagrosamente, a goleira zapatista «dava à luz» a bola que, rolando apenas, ultrapassava a linha inimiga e nascia um gol que esqueça Messi e Cristiano. Enquanto isso, o TTT Comando Palomitas cercava a irmã responsável pelo placar para «exortá-la» a validar o gol conseguido «com o sacrifício da companheira zapatista e sua pequena bola».

A terceira variante implicava um risco para a protagonista, já que ela tinha que fingir um desmaio. Praticou-se apenas uma vez no semilheiro porque ali o terreno é de cascalho (pedra e areia), e esperava-se que no campo inimigo houvesse grama. A companheira tinha que desmaiar no meio do campo. O Subcomandante Moisés, alarmado, correria para ver a companheira e, com ele, toda a bancada zapatista girava. Todas as companheiras clamavam, em suas respectivas línguas maternas, por serviço médico. Como era de esperar, o inimigo não teria serviço médico, assim que se teria uma maca preparada com antecedência. A árbitra queria chamar os paramédicos, mas o SubMoisés alegaria usos e costumes dos povos originários, assim que os mesmos zapatistas levantavam a desmaiada e a colocavam na maca. Confundidas pela dor e pena de ver a sua irmã de luta caída em combate, as milicianas não acertavam em dirigir-se à banca carregando a maca, assim que terminavam por chegar até o gol inimigo. Nesse momento, os primeiros deuses, os que nasceram no mundo, faziam seu trabalho e a companheira ferida despertaria sem necessidade de que nenhum sapo macho, plebeu ou da realeza, a beijasse, e encontraria a bola aos seus pés, justo na linha de gol e com um chute selaria o destino. Era de esperar que, animadas pela alegria de ver a sua companheira a salvo, as milicianas gritassem «Gol!» Para esse momento, o Comando Palomitas já estaria ao pé do placar para assegurar-se de que se celebrasse a vida.

A quarta não me lembro muito bem – já sei que disse que eram 3, mas não eram 4 os três mosqueteiros? -, embora fosse semelhante em engenho, criatividade e malícia às outras três.

Segundo me contaram as milicianas ao seu regresso, nos territórios que chamam «Itália» e «Estado Espanhol», as irmãs inimigas rapidamente entenderam do que se tratava e começaram a jogar com o mesmo estilo. Não sei se poderia ser qualificado pela FIFA como futebol, mas, a julgar pelas fotos e vídeos que me mostraram, aquilo foi uma festa. Resultado: não houve quem ganhasse ou quem perdesse… e a Verônica voltou com o bonequinho que, supõe-se, pertencia ao agora falecido SupGaleano. Não, ela não o devolveu.

«E essa foi a mensagem para as geografias de todo o mundo: não jogue com as regras do seu inimigo, crie suas próprias regras», declarou-me o SupGaleano antes do seu último suspiro.

-*-

II.- Quantos Chipres cabem em um jogo de futebol?

Isso me foi relatado pelo Subcomandante Insurgente Moisés, ao contar detalhes e anedotas do chamado «capítulo Europa» da Travessia pela Vida. O que a seguir relato é o que consegui resgatar da narrativa, cheia de admiração e respeito, do Subcomandante Moisés.

«Há uma geografia que se chama Chipre. Bem, daí que está partido, ou seja, fragmentado. Há cipriotas, greco-cipriotas e turco-cipriotas e não me lembro de quantos mais que se apelidam de cipriotas. Os capitalistas dividiram essa terra, a fragmentaram. E também fragmentaram seu povo, sua língua, sua história, sua cultura. E acontece que, embora seja uma ilha pequena, todos querem o seu dinheiro e, como de costume, os dividem, mas cada parte quer a parte do outro. Ou seja, no meio dos poderosos e suas guerras, ficam os povos.

Bem, então há um time de futebol nessa geografia que se chama Chipre. Tem bons jogadores e são profissionais. Ou seja, seu trabalho é jogar futebol. Então estão perdendo vários jogos e se reúnem entre eles para analisar e dizem que estão perdendo porque a estratégia dos jogos está errada. Vão e dizem ao dono do time, ou seja, ao patrão, que estão perdendo por essa razão, que eles já pensaram em uma estratégia melhor e assim vão ganhar mais jogos.

O patrão, ou seja, o dono do time, olha para eles com desprezo e diz: ‘vocês ganham ou perdem conforme me convém. Às vezes me convém que percam e assim será’.

Os jogadores sabem jogar muito bem, mas também têm bom coração. Então, por assim dizer, se rebelam. Eles se chamam resistência e rebeldia, mas em sua língua. E mandam o dono do time, ou seja, o patrão, para o diabo. Então fazem sua própria equipe de futebol. E se organizam e fazem seu próprio estádio. Essa terra está dividida, então, no meio, dizem ‘em terra de ninguém’, por aí fazem seu estádio e então convidam para jogar e praticar a todos que queiram. Os outros grupos e coletivos que lutam os apoiam e se organizam bem. Não importa se você é cipriota, greco-cipriota, turco-cipriota ou cipriota-não-sei-o-quê. Não se cobra, é voluntário o que cada um quiser dar. Ou seja, por assim dizer, o pagamento não é o que importa. Então, de vez em quando fazem seus jogos e não há divisões de nacionalidades, nem religiões, nem bandeiras, só há futebol. E é como uma festa.

Ou seja, por assim dizer, esses irmãos quebraram essas fronteiras que os patrões e os donos colocaram.

«Então é como se tivessem feito seu caracol. Eles têm um caracol futebolístico! Eu disse a eles que vamos ver quando podemos fazer um jogo de futebol lá na terra deles ou aqui em terra de ninguém», diz o Subcomandante Insurgente Moisés, porta-voz das comunidades zapatistas, chefe do EZLN, e coordenador da Travessia pela Vida.

-*-

Chega. Saúde e que os jogos, como as pedaladas, não sejam uma competição, mas pretextos para conviver entre diferentes.

Dou fé.

Das montanhas do Sudeste Mexicano.

El Capitán

México, novembro de 2023. 40, 30, 20, 10, 2 anos depois.

Música: «Somos Sur», interpretada por Ana Tijoux e Shadia Mansour
Imagens do jogo de futebol entre a equipe Ixchel-Ramona e as irmãs inimigas italianas tiradas na geografia que chamam Roma, Itália, em novembro de 2021. Adereço de imagens de mobilização dos povos zapatistas contra as guerras em 2022. Tercios Compas. Copyleft novembro de 2023

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