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Palabra del Ejército Zapatista de Liberación Nacional

Abr272021

A ROTA DE IXCHEL

A ROTA DE IXCHEL

Abril de 2021.

Sairá a Montanha.

De uma das casas de Ixchel, a mãe do amor e da fertilidade, a avó das plantas e dos animais, a mãe jovem e a mãe velha, a raiva em que a dor da terra se transforma quando é ferida e maculada, a Montanha sairá.

Uma das lendas maias conta que Ixchel se estendeu pelo mundo na forma de um arco-íris. Ela o fez para dar ao planeta uma lição de pluralidade e inclusão, e para lembrar que a cor da terra não é uma, mas muitas, e que todas elas, sem deixar de ser o que são, juntas iluminam a maravilha da vida. E ela, Ixchel, a mulher arco-íris, abraça todas as cores e as faz parte dela.

Nas montanhas do sudeste mexicano, na língua raiz maia do mais antigo dos antigos, é contada uma das histórias de Ixchel, mãe-lua, mãe-amor, mãe-raiva, mãe-vida. Falando assim fala o velho Antonio:

“Do oriente veio a morte e a escravidão. Assim chegou, e de modo algum. Nada podemos mudar em relação ao que veio antes. Mas assim disse Ixchel:

“Que amanhã ao oriente navegue a vida e a liberdade na palavra dos meus ossos e sangues, minhas crias. Que não envie uma cor. Que não mande ninguém para que ninguém obedeça e que cada um seja o que ele é com alegria. Porque a tristeza e a dor vêm daqueles que querem espelhos e não cristais para olhar para todos os mundos que eu sou. Com raiva será necessário quebrar sete mil espelhos até que a dor seja aliviada. Muita morte terá que doer para que, no final, seja a vida o caminho. Que o arco-íris possa então coroar a casa de minhas crias, a montanha que é a terra dos meus sucessores”.

Quando a opressão veio em metal e fogo para o solo maia, o ts’ul, aquele que veio de longe, olhou para muitas figuras da deusa arco-íris e assim batizou aquela terra: Isla Mujeres.

Uma manhã, pela manhã, quando a cruz falante invoca, não o passado, mas o que está por vir, navegará a montanha até a terra do Ts’ul e atracará em frente à velha oliveira que dá sombra ao mar e identidade àqueles que vivem e trabalham nessas margens”.

-*-

Em 3 de maio do ano 21 do século 21, de Isla Mujeres, Quintana Roo, México, zarpará a Montanha para cruzar o Atlântico em uma viagem que tem muito de desafio e nada de reprovação. No sexto mês do calendário, terá que avistar as costas do porto de Vigo (Ciudad olívica), Pontevedra, na Comunidade Autônoma da Galiza, Estado espanhol.

-*-

Se não se pode desembarcar, seja por COVID, migração, discriminação gritante, chauvinismo, ou que erraram o porto ou os anfitriões, estamos preparados.

Estamos dispostos a aguardar lá e vamos desfraldar, frente à costa europeia, uma grande faixa que diz “Acorde!” Esperaremos para ver se alguém lê a mensagem e depois esperar para ver se de fato acordam; e depois esperar para ver se fazem alguma coisa.

Se a Europa de abaixo não quiser ou não puder, então, precavidos, de futuro, pegaremos 4 cayucos com seus respectivos remos e começaremos nosso caminho de volta. É claro que vamos adiar um pouco até termos um vislumbre das margens da casa de Ixchel novamente.

Os cayucos representam 4 etapas de nosso ser como Zapatistas que somos:

– Nossa cultura como um povo original com raízes maias. É o maior cayuco no qual os outros 3 podem ser armazenados. É uma homenagem a nossos antepassados.

– A etapa da clandestinidade e da insurgência. É o cayuco que segue o primeiro em tamanho, e é uma homenagem àqueles que caíram desde o primeiro de janeiro de 1994.

– A etapa da autonomia. É o terceiro em tamanho, do maior ao menor, e é uma homenagem aos nossos povos, regiões e zonas que, em resistência e rebeldia, elevaram e continuam elevando a autonomia zapatista.

– A etapa da infância zapatista. É o menor cayuco que os meninos e meninas zapatistas pintaram e decoraram com as figuras e cores que quiseram.

-*-

Mas se conseguirmos desembarcar e abraçar com nossas palavras aqueles que lutam, resistem e se rebelam lá, então haverá uma festa, baile, canções, e cumbias e caderas sacudirão os céus e solos distantes.

E, em ambos os lados do oceano, uma breve mensagem inundará todo o espectro eletromagnético, o ciberespaço e ecoará nos corações:

вторгнення почалося
bosqinchilik boshlandi
a invasión comezou
Die Invasion hat begonnen
istila başladı
la invasió ha iniciat
l’invasione hè principiata
invazija je započela
invaze začala
инвазията е започнала
invasionen er startet
invázia sa začala
invazija se je začela
la invado komenciĝis
the invasion has started
invasioon on alanud
inbasioa hasi da
hyökkäys on alkanut
l’invasion a commencé
mae’r goresgyniad wedi cychwyn
η εισβολή έχει ξεκινήσει
tá an t-ionradh tosaithe
innrásin er hafin
l’invasione è iniziata
بدأ الغزو
êriş dest pê kiriye
iebrukums ir sācies
prasidėjo invazija
d’Invasioun huet ugefaang
започна инвазијата
bdiet l-invażjoni
de invasie is begonnen
invasjonen har startet
حمله آغاز شده است
rozpoczęła się inwazja
a invasão começou
invazia a început
вторжение началось
инвазија је започела
invasionen har börjat

“A invasão começou”.
.-.. .- / .. -. …- .- … .. – -. / …. .- / .. -. .. -.-. .. .- -.. – (em código morse)

E talvez, apenas talvez, Ixchel, deusa da lua, seja então uma luminária em nosso caminho e, como neste amanhecer, luz e destino.

Dou fé.

Do Centro de Treinamento Marítimo-Terrestre Zapatista
Semillero da Comandanta Ramona. Zona Tzotz Choj.

O SupGaleano.
México, 26 de abril de 2021. Lua cheia.

Soundtrack del video: “Te Llevaré” Lisandro Meza.

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