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Palabra del Ejército Zapatista de Liberación Nacional

Jun302005

Sexta Declaração da Selva Lacandona

EZLN- EXÉRCITO ZAPATISTA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL – MÉXICO

Sexta Declaração da Selva Lacandona

                      Esta é a nossa palavra simples , que busca tocar o coração das pessoas humildes e simples como nós, mas, também ,como nós, dignos e rebeldes. Este é a nossa palavra simples, para contar o que tem sido o nosso caminhar e onde estamos agora, para explicar como vemos o mundo e o nosso país, para dizer o que pensamos fazer e como pensamos fazê-lo, e para convidar outras pessoas a caminharem conosco em algo muito grande que, se chama México e em algo maior, que se chama mundo. Esta é a nossa palavra simples, para dar conta a todos os corações que são honestos e nobres do que queremos no México e no mundo. Esta é nossa palavra simples porque nossa ideia é de chamar aqueles que são como nós e unirmos à eles, em todos os lugares onde vivem e lutam.

DO QUE SOMOS

Nós somos os zapatistas do EZLN, ainda que nos chamem também “neozapatistas”. Bom, mas nós zapatistas do EZLN nos levantamos em armas em janeiro de 1994, porque vimos a quantidade de maldades que nos fazem os poderosos, que só nos humilham, nos roubam, nos prendem e nos matam, e ninguém diz e nem faz nada.

Por isso, nós dissemos Basta! Ou seja, que já não vamos permitir que nos desprezem e nos tratem pior que os animais. E, então, também dissemos que queremos a democracia, a liberdade e a justiça para todos os mexicanos, ainda que nos centramos mais nos povos indígenas. Porque, nós, do EZLN, somos quase todos indígenas daqui de Chiapas, mas não queremos lutar só pelo nosso bem ou só pelo bem dos indígenas de Chiapas, ou só pelos povos indígenas do México; nós queremos lutar, sim, com todas as pessoas simples e humildes como nós, que passam por grande necessidade e que sofrem a exploração e os roubos dos ricos e de seus maus governos aqui no nosso México e em outros países do mundo.

E, então, nossa pequena história é que nos cansamos da exploração que nos faziam os poderosos e nos organizamos para nos defendermos e para lutar pela justiça. De início, não somos muitos; somos apenas um punhado que andam de um lado pra outro, falando e ouvindo outras pessoas como nós. Fizemos isso durante muitos anos e o fizemos em segredo, ou seja, sem fazer alarde. Ou seja, juntamos nossa força em silêncio. Levamos cerca de 10 anos, depois crescemos e já éramos muitos milhares. Então, nos preparamos bem, com a política e com as armas, e, de repente, quando os ricos estão celebrando a festa de ano novo, caímos sobre suas cidades e as ocupamos e fizemos saber a todos que estávamos aqui, que eles têm que nos levar em consideração. E depois que os ricos ficaram muito assustados, nos enviaram seus grandes exércitos para que acabassem conosco, como sempre fazem quando os explorados se rebelam, mandam acabar com todos. Mas não conseguiram acabar conosco, porque nós nos preparamos muito bem antes da guerra e nos tornamos fortes em nossas montanhas. E os exércitos andavam por aí procurando-nos e jogando suas bombas e balas contra nós, e já estavam fazendo seus planos de matarem todos os indígenas por não saber quem é e quem não é zapatista. E nós, correndo e combatendo, combatendo e correndo, como fizeram nossos antepassados. Sem que nos entregássemos, sem que nos rendêssemos, sem que nos derrotassem.

Então os moradores das cidades saem as ruas e começam sua gritaria de que se pare com a guerra. Assim, nós paramos nossa guerra e ouvimos estes irmãos e irmãs da cidade que nos dizem para tratarmos de chegar a um acordo, ou seja a um acordo com os maus governos para que o problema seja resolvido sem uma matança. E nós demos atenção a essa gente, porque esta gente é, como dizemos, “o povo”, ou seja o povo mexicano. Assim, colocamos de lado o fogo e tiramos a palavra.

E acontece que os governos disseram que vão se comportar bem sim, vão dialogar, vão fazer acordos e vão cumpri-los. E nós dissemos que está bem, mas também pensamos que está bem que conhecemos esta gente que saiu às ruas para parar a guerra. Então, enquanto estamos dialogando com os maus governos, falamos também com estas pessoas e vimos que a maioria era gente humilde e simples como nós, e ambos, ou seja eles e nós, entendemos bem porque lutamos. Chamamos esta gente de “sociedade civil” porque a maioria não pertencia a partidos políticos, mas era gente comum, como nós, gente simples e humilde.

Mas acontece que os maus governos não queriam um bom acordo, sua artimanha era de falar e chegar a um acordo enquanto estavam preparando seus ataques para eliminar-nos de vez. E, então, nos atacaram em várias ocasiões, mas não nos venceram porque resistimos bem e muita gente se mobilizou no mundo inteiro. E então os maus governos pensaram que o problema é que muita gente está vendo o que acontece com o EZLN, e começaram seu plano de fazer como se nada estivesse acontecendo. E isso enquanto nos rodeiam, ou sejam nos põe um cerco a espera de que, como nossas montanhas ficam em lugar retirado, as pessoas acabassem esquecendo por estar longe da terra zapatista. De tanto em tanto, os maus governos tentam, tratam de nos enganar ou nos atacam, como em fevereiro de 1995 quando nos mandaram uma grande quantidade de tropas, mas não nos derrotaram. Porque, como dizem logo em seguida, não estamos sós, muita gente nos apoiou e resistimos bem.

Depois, os maus governos tiveram que fazer acordos com o EZLN e estes acordos se chamam “Acordos de San Andrés” , porque “San Andrés” é o município onde estes acordos foram assinados. Nestes diálogos, nós não estávamos sozinhos a falar com os do mau governo, mas convidamos muitas pessoas e organizações que estavam ou estão na luta pelos povos indígenas do México, e todos diziam sua palavra e todos chegávamos a acordos sobre como vamos falar com os maus governos. E, assim foi este diálogo, no qual não havia só zapatistas de um lado e governos do outro, mas com os zapatistas estavam sim os povos indígenas do México e os que os apoiam. E nestes acordos os maus governos disseram que vão reconhecer os direitos dos povos indígenas do México, vão respeitar sua cultura, e vão transformá-los em lei na Constituição. Mas, depois de assinados, os maus governos se fizeram de esquecidos, passam muitos anos e nada de cumprir estes acordos. Ao contrário, o governo atacou os indígenas para obrigá-los a recuar em sua luta, como em 22 de dezembro de 1997, data em que Zedillo mandou matar 45 homens, mulheres, anciãos e crianças no povoado de Chiapas que se chama Acteal. Crime como este não se esquece tão facilmente e é uma amostra de como os maus governos não têm escrúpulos em atacar e assassinar os que se rebelam contra as injustiças. E, enquanto isso, nós zapatistas pressionamos para que se cumpram os acordos e vamos resistindo nas montanhas do sudeste mexicano.

E então começamos a falar com outros povos indígenas do México e com suas organizações e acordamos com eles de que vamos lutar juntos pelo mesmo, ou seja, pelo reconhecimento dos direitos e da cultura indígenas. Bom, também nos apoiou muita gente do mundo inteiro, e pessoas que são muito respeitadas e cuja palavra é muito grande porque trata-se de grandes intelectuais, artistas e cientistas do México e do mundo inteiro. Realizamos também encontros internacionais, ou seja, nos juntamos para falar com pessoas da América, da Ásia, da Europa, da África e da Oceania, conhecemos suas lutas e seus jeitos, e dissemos que são encontros “intergalácticos” só para sermos brincalhões e porque convidamos também os de outros planetas, mas parece que não chegaram, ou talvez chegaram, mas não o disseram claramente.

Seja como for, os maus governos não cumpriam (os acordos), e então fizemos um plano para falar com muitos mexicanos para que nos apoiassem. Então, antes de tudo, fizemos, em 1997, uma marcha até a Cidade do México que se chamou “dos 1.111″ porque iam um companheiro e uma companheira de cada povoado zapatista, mas o governo não lhe fez caso. Em seguida, em 1999, fizemos uma consulta em todo o país e aí deu pra ver que a maioria concorda com as demandas dos povos indígenas, mas os maus governos tampouco lhe fizeram caso. E, por último, em 2001, fizemos a que se chamou a “Marcha Pela Dignidade Indígena” , que teve muito apoio de milhões de mexicanos e de outros países, e chegou até onde estão os deputados e os senadores, ou seja, no Congresso da União, para exigir o reconhecimento dos indígenas mexicanos.

Mas acontece que não, que os políticos que são do partido PRI, do partido PAN e do partido PRD entraram em acordo entre eles e simplesmente não reconheceram os direitos e a cultura indígenas. Isso foi em abril de 2001 e aí os políticos demonstraram claramente que não têm nenhuma decência e são sem-vergonhas, que só pensam em ganhar seu bom dinheiro como maus governantes que são. Temos que lembrar disso porque já, já, vão dizer a vocês que vão reconhecer os direitos indígenas, mas é uma mentira que eles jogam para que votem neles, já tiveram sua oportunidade e não cumpriram o seu dever.

Foi então que nos demos conta de que o diálogo e a negociação com os maus governos do México foram em vão. Ou seja, não é conveniente que falemos com os políticos porque nem seu coração, nem sua palavra agem direito, mas estão cheios de tramoias e soltam mentiras de que vão cumprir, mas depois não cumprem. Ou seja, naquele dia em que os políticos do PRI, do PAN e do PRD aprovaram uma lei inútil, mataram de vez o diálogo e deixaram claro que pouco importa o que eles acordam ou assinam porque não têm palavra. Em seguida, não fizemos nenhum contato com os poderes federais, porque entendemos que o diálogo e a negociação haviam fracassado por causa destes partidos políticos. Vimos que não se importavam com o sangue, a morte, o sofrimento, as mobilizações, as consultas, os esforços, os pronunciamentos nacionais e internacionais, os encontros, os acordos, as assinaturas, os compromissos. Desta forma, a classe política não só fechou, mais uma vez, a porta aos povos indígenas, como também deu um golpe mortal à solução pacífica, dialogada e negociada da guerra. E também não se pode mais acreditar que se cumpram os acordos a que se chega com quem quer que seja. Observem para tirar proveito do que aconteceu conosco.

E então nós vimos tudo isso e pensamos em nossos corações o que vamos fazer. A primeira coisa que vimos é que o nosso coração já não é como era antes, quando começamos nossa luta, mas sim que é maior porque já tocamos o coração de muita gente boa. E também vimos que o nosso coração está mais ferido. E não é que está ferido pelos enganos que os maus governos nos fizeram, mas sim porque quando tocamos os corações de outros tocamos também suas dores. Ou seja, foi como vermo-nos num espelho.

II- DE ONDE ESTAMOS AGORA

Então, como zapatistas, pensamos que não bastava em deixar de dialogar com o governo, mas que era necessário sim ir adiante na luta apesar destes políticos parasitas e vagabundos. O EZLN decidiu então pelo cumprimento, sozinho e de sua parte (ou seja, isso que se chama de “unilateral” porque é só de um lado), dos Acordos de San Andrés quanto aos direitos e a cultura indígenas. Durante 4 anos, desde meados de 2001 até meados de 2005, nos dedicamos a isso, e a outras coisas que já vamos contar.

Bom, começamos então a implantar os municípios autônomos rebeldes zapatistas, que é como se organizaram os povoados para governar e governar-se, para tornarem-se mais fortes. Esta forma de governo autônomo não foi inventada sem mais nem menos pelo EZLN, mas vem de vários séculos de resistência indígena e da própria experiência zapatistas, enquanto autogoverno das comunidades. Ou seja, não é que vem alguém de fora a governar, mas que os próprios povoados decidem, entre eles, quem e como governa, e se este não obedece então o tiram. Ou seja, se quem manda não obedece ao povo, então o põem pra correr, deixa de ser autoridade e entra outro.

Vimos então que os municípios autônomos não estavam todos no mesmo nível, mas havia alguns que estavam mais avançados e tinham mais apoios da sociedade civil, e outros estavam mais abandonados. Ou seja, que faltava organizar as coisas para que tudo fosse mais igualitário. Vimos também que o EZLN com sua parte político militar estava se metendo nas decisões que cabiam as autoridades democráticas, como se diz “civis”. E, aqui, o problema é que a parte político-militar do EZLN não é democrática, porque é um exército, e vimos que não está certo isso que o militar está em cima e o democrático em baixo, porque não é possível que o democrático seja decidido militarmente, mas sim deve ser o contrário: ou seja, que o político-democrático está em cima mandando e em baixo o militar obedecendo. Ou, talvez, é melhor que não haja nada em baixo, que seja tudo bem plano, sem militar, e por isso os zapatistas são soldados para que não haja soldados. Bom, mas então, em relação a este problema, o que fizemos foi começar a separar o que é político militar do que são as formas de organização autônomas e democráticas das comunidades zapatistas. E, assim, ações e decisões que antes o EZLN fazia e tomava, aos poucos foram repassadas às autoridades democraticamente eleitas nos povoados. Claro que isso é fácil de dizer, mas na prática custa muito, porque são muitos anos, primeiro quando da preparação da guerra e, em seguida, já é a guerra e vai se acostumando com o político-militar. Mas, seja como for, fizemos isso porque este é o nosso jeito, de fazer o que dizemos, porque senão não há porquê sair dizendo se depois não o fazemos.

Foi assim que, em agosto de 2003, nasceram as Juntas de Bom Governo, e com elas se continuou a aprendizagem e o exercício do “mandar obedecendo”. Desde então, e até a metade de 2005, a direção do EZLN não se meteu a dar ordens nos assuntos civis, mas acompanhou e apoiou as autoridades democraticamente eleitas pelos povoados e, além disso, vigiou para que fossem bem informados os povos e a sociedade civil nacional e internacional em relação aos apoios recebidos e em que foram utilizados. E agora estamos passando o trabalho de vigilância do bom governo às bases de apoio zapatistas, com cargos em esquema de rodízio, de tal forma que todos e todas aprendam e realizem este trabalho. Porque nós achamos que um povo que não vigia os seus governantes está condenado a ser escravo, e nós lutamos para sermos livres, não para mudar de amo a cada seis anos.

Durante estes 4 anos, o EZLN também passou às Juntas de Bom Governo e aos Municípios Autônomos os apoios e contatos que, em todo o México e o mundo, foram conseguidos nestes anos de guerra e resistência. Além disso, durante este período, o EZLN foi construindo um apoio econômico e político que permita às comunidades zapatistas avançar com menos dificuldades na construção de sua autonomia e na melhora de suas condições de vida. Não é muito, mas é bem superior ao que se tinha antes do início do levante, em janeiro de 1994. Se você olha para um desses estudos feitos pelos governos, vai ver que as únicas comunidades indígenas que melhoraram suas condições de vida, ou seja, sua saúde, educação, alimentação, moradia, foram as que estão em território zapatista, que é como nós chamamos o lugar onde estão nossos povoados. E tudo isso tem sido possível pelo avanço dos povoados zapatistas e pelo apoio muito grande recebido de pessoas boas e nobres, que chamamos de “sociedades civis”, e de suas organizações no mundo inteiro. Como se todas estas pessoas tivessem tornado realidade isso de que “outro mundo é possível”, mas nos fatos, não nas simples falações.

E, então, os povoados têm tido bons avanços. Agora há mais companheiros e companheiras que estão aprendendo a ser governo. E, ainda que aos poucos, há mais mulheres que estão entrando nestes trabalhos, mas ainda continua faltando respeito para com as companheiras e que elas participem mais nos trabalhos da luta. Além disso, as Juntas de Bom Governo, têm melhorado a coordenação entre os municípios autônomos e a solução de problemas com outras organizações e com autoridades dos municípios oficiais. E, também, se melhorou muito nos projetos das comunidades, e é mais igualitária a distribuição de projetos e apoios dados pela sociedade civil do mundo inteiro: a saúde e a educação têm melhorado, mesmo que ainda falte um bocado para serem o que devem ser, o mesmo ocorreu com a moradia e a alimentação, e em algumas regiões tem melhorado muito o problema da terra porque as terras recuperadas dos fazendeiros foram distribuídas, mas há regiões que continuam sofrendo por falta de terras para cultivar. E também melhorou muito o apoio da sociedade civil nacional e internacional, porque antes cada um iam onde lhe dava na telha, e agora as Juntas de Bom Governo orientam em relação a onde é mais necessário. E, por isso mesmo, por toda parte, há mais companheiros e companheiras que estão aprendendo a relacionar-se com as pessoas de outras regiões do México e do mundo, estão aprendendo a respeitar e a exigir respeito, estão aprendendo que há muitos mundos e que todos têm o seu lugar, seu tempo, seu jeito, e temos que nos respeitar mutuamente entre todos.

Bom, nós zapatistas do EZLN dedicamos esse tempo a nossa força principal, ou seja, aos povoados que nos apoiam. A situação passou por uma melhora e não se pode dizer que a organização e a luta zapatistas foram em vão, e, ainda que acabem conosco de vez, nossa luta serviu para alguma coisa.

Mas não foram só os povoados zapatistas a crescerem, o EZLN também cresceu. Porque o que aconteceu neste período é que novas gerações renovaram toda a nossa organização. Ou seja, injetaram uma nova força. Os comandantes e comandantas, que estavam em sua maturidade no início do levante em 1994, têm agora a sabedoria do que foi aprendido na guerra e no diálogo de 12 anos com milhares de homens e mulheres do mundo inteiro. Os membros do CCRI, a direção político-organizativa zapatista, agora aconselham e orientam os novos que vão entrando em nossa luta e os que vão ocupando cargos de direção. E já faz tempo que os “comitês” (que é como nós os chamamos), têm preparado toda uma nova geração de comandantes e comandantas que, depois de um período de instrução e prova, começam a conhecer os trabalhos do comando organizativo e a desempenhá-los. E acontece também que nossos insurgentes, insurgentas, milicianos, milicianas, responsáveis locais e regionais, bem como as bases de apoio, que eram jovens no início do levante, já são homens e mulheres maduros, combatentes veteranos e líderes naturais em suas unidades e comunidades. E aqueles que eram crianças naquele janeiro de 1994, são jovens que têm crescido na resistência, e têm sido formados na digna rebeldia levada adiante por seus pais, nestes 12 anos de guerra. Estes jovens têm uma formação política, técnica e cultural que nós que iniciamos o movimento zapatista não tínhamos. Esta juventude alimenta agora, cada vez mais, tanto nossas tropas como os postos de direção na organização. E, bom, todos nós vimos as enganações da classe política mexicana e a destruição que suas ações provocam em nossa pátria. E vimos as grandes injustiças e matanças realizadas pela globalização neoliberal no mundo inteiro. Mas vou lhes falar disso mais adiante.

Assim, o EZLN tem resistido a 12 anos de guerra, de ataques militares, políticos, ideológicos e econômicos, de cerco, de perseguição, de hostilidades e não têm nos vencido, não nos vendemos, nem nos rendemos, e temos avançado. Mais companheiros de muitos lugares têm entrado na luta, de tal forma que, no lugar de tornarmo-nos mais fracos depois de tantos anos, nos fazemos mais fortes. Claro que há problemas que podem ser resolvidos separando mais o político-militar do civil-democrático. Mas há coisas, as mais importantes, como são nossas demandas pelas quais lutamos que não foram completamente atingidas.

Conforme nosso pensamento e o que vemos em nosso coração, temos chegado a um ponto em que não podemos ir além e, além disso, é possível que percamos tudo o que temos se ficamos como estamos e não fazemos nada para avançar. Ou seja, chegou a hora de arriscar outra vez e dar um passo perigoso, mas que vale a pena. Porque, talvez, unidos com outros setores sociais que têm nossas mesmas carências, será possível conseguir o que precisamos e merecemos. Um novo passo adiante na luta indígena só é possível se o indígena se une aos operários, camponeses, estudantes, professores, empregados… ou seja, aos trabalhadores da cidade e do campo.

III- DE COMO VEMOS O MUNDO

Agora vamos explicar-lhes como é que vemos nós os zapatistas o que acontece no mundo. Pois vemos que o capitalismo é o que está mais forte agora. O capitalismo é um sistema social, ou seja, uma forma como em uma sociedade estão organizadas as coisas e as pessoas, a quem tem e a quem não tem, e quem manda e quem obedece. No capitalismo há uns que tem o dinheiro, ou seja capital e fábricas e lojas e terras e muitas coisas, e há outros que não tem nada, senão que só tem sua força e seu conhecimento para trabalhar; e no capitalismo mandam os que tem o dinheiro e as coisas, e obedecem os que nada mais tem que sua capacidade de trabalho.

E, então, o capitalismo quer dizer que tem uns poucos que tem grandes riquezas, mas não é que ganharam um prêmio, ou que encontraram um tesouro, ou que herdaram de um parente, senão que essas riquezas as obtém de explorar o trabalho de muitos. Ou seja, que o capitalismo se baseia na exploração dos trabalhadores, que quer dizer que como que espremem os trabalhadores e tiram deles tudo o que podem de lucro. Isso se faz com injustiça porque ao trabalhador não lhes pagam honestamente o que é o seu trabalho, senão que apenas lhes dão um salário para que coma um pouco e se descanse um tantinho, e no outro dia voltem a trabalhar no “exploradeiro”, seja no campo ou na cidade.

E, também, o capitalismo faz sua riqueza com o despojo, ou seja o roubo, porque lhes tiram de outros o que ambicionam, por exemplo terras e riquezas naturais. Ou seja, que o capitalismo é um sistema onde os ladrões estão livres e são admirados e postos como exemplo.

E, além de explorar e despojar, o capitalismo reprime porque encarcera e mata aos que se rebelam contra a injustiça.

Ao capitalismo o que mais lhe interessa são as mercadorias, porque quando se compram e se vendem dão lucro. E, então, o capitalismo converte tudo em mercadoria, faz mercadoria às pessoas, à natureza, à cultura, à história, à consciência. Segundo o capitalismo, tudo se tem que poder comprar e vender. E tudo se esconde atrás das mercadorias para que não vejamos a exploração que se faz. E então as mercadorias se compram e se vendem num mercado. E resulta que o mercado, além de servir para comprar e para vender, também serve para esconder a exploração dos trabalhadores. Por exemplo, no mercado vemos o café já empacotado, em seu saquinho ou frasco muito bonitinho, mas não vemos o camponês que sofreu para colher o café, e não vemos o coiote que lhe pagou muito barato pelo seu trabalho, e não vemos aos trabalhadores na grande empresa dá-lhe que dá-lhe para empacotar o café. Ou vemos um aparelho para escutar música como “cumbias”, “racheras”, ou corridos ou segundo cada gosto, e vemos que está muito bom porque tem bom som, mas não vemos às operárias da maquiladora que batalhou muitas horas para colar os cabos e as partes do aparelho, e apenas lhes pagaram uma miséria de dinheiro, e elas moram longe do trabalho e gastam um montão em passagens, e além disso correm perigo que as sequestrem, a violem, ou a matem como acontece na Ciudad Juárez, no México.

Ou seja, que no mercado vemos mercadorias, mas não vemos a exploração com a qual se fizeram. E então o capitalismo necessita muitos mercados… Ou um mercado muito grande, um mercado mundial.

E, então, resulta que o capitalismo de agora não é igual que antes, que estão os ricos contentes explorando os trabalhadores de seus países, senão que agora está em um passo que se chama Globalização Neoliberal. Esta globalização quer dizer que já não só em um país dominam aos trabalhadores ou em vários, senão que os capitalistas tratam de dominar tudo em todo o mundo. E, então, ao mundo, ou seja o planeta terra, também se diz que é o “globo terrestre” e por isso se diz “globalização” ou seja, todo o mundo.

E o neoliberalismo, pois, é a ideia de que o capitalismo está livre para dominar todo o mundo e fazer o que quiser, pois tem-se que resignar e conformar-se e não fazer ruído, ou seja não rebelar-se. Ou seja que o neoliberalismo é como a teoria, o plano pois, da globalização capitalista. E o neoliberalismo tem seus planos econômicos, políticos, militares e culturais. Em todos estes planos do que se trata é de dominar a todos, e aquele que não obedece pois o reprimem ou o apartam para que não passe suas ideias de rebelião a outros.

Então, na globalização neoliberal, os grandes capitalistas que vivem nos países que são poderosos, como Estados Unidos, querem que todo o mundo se faça como uma grande empresa onde se produzem mercadorias e como um grande mercado. Um mercado mundial, um mercado pra comprar e vender todo do mundo e para esconder toda a exploração de todo o mundo. Então os capitalistas globalizados se metem a todos os lados, ou seja a todos os países, para fazer seus negócios ou seja suas grandes explorações. E então não respeitam nada e se mentem como querem. Ou seja, que como que fazem a conquista de outros países. Por isso nós zapatistas dizemos que a globalização neoliberal é uma guerra de conquista de todo o mundo, uma guerra mundial, uma guerra que faz o capitalismo para dominar mundialmente. E então essa conquista as vezes é com exércitos que invadem um país e a força o conquistam. Mas as vezes é com a economia, ou seja, que os grandes capitalistas metem seu dinheiro em outro país ou lhe empresta dinheiro, mas com a condição de que obedeçam o que eles dizem. E também se metem com suas ideias, ou seja com a cultura capitalista que é a cultura do mercado, da ganância do mercado.

Então o que faz a conquista, o capitalismo, faz como quer, ou seja que destruí e muda o que não gosta e elimina o que lhe estorva. Por exemplo, lhe estorva os que não produzem nem compram nem vendem as mercadorias da modernidade, ou os que se rebelam a essa ordem. E a esses que não servem, pois os despreciam. Por isso os indígenas estorvam à globalização neoliberal e por isso os despreciam e os querem eliminar. E o capitalismo neoliberal também acabam com as leis que não o deixa fazer muitas explorações e ter muito lucro. Por exemplo, impõem que tudo se possa comprar e vender, e como o capitalismo tem o dinheiro, pois, compra tudo. Então o capitalismo destrói aos países que conquistam com a globalização neoliberal, mas também como que querem voltar a acomodar tudo, e fazer de novo, mas ao seu modo, ou seja de modo que o beneficie e sem o que lhe estorva. Então a globalização neoliberal, ou seja a capitalista, destrói o que o que há nesses países, destrói sua cultura, seu idioma, seu sistema econômico, seu sistema político, e também destrói os modos em que se relacionam os que vivem nesse país. Ou seja, que fica destruído tudo o que faz que um país seja país.

Então a globalização neoliberal quer destruir às nações do mundo e que só fique uma nação ou país, ou seja o país do dinheiro, do capital. E o capitalismo quer então que tudo seja como ele quer, segundo seu modo, e o que é diferente pois ele não gosta, o persegue e o ataca, ou o aparta em um cantinho e faz como que não exista.

Então, como quem diz que resumindo, o capitalismo da globalização neoliberal se baseia na exploração, no despojo, no desprezo e na repressão aos que não se deixam dominar. Ou seja, igual que antes, mas agora globalizado, mundial.

Mas não é tão fácil para a globalização neoliberal, porque os explorados de cada país não se conformam e não dizem que já não se pode fazer nada, senão que se rebelam; e os que sobram e estorvam pois resistem e não se deixam ser eliminados. E, então, por isso, vemos que em todo o mundo que estão oprimidos fazem resistência para não deixar-se, ou seja, que se rebelam, e não só em um país senão que onde queira, abundam, ou seja que, assim como há uma globalização neoliberal, há uma globalização da rebeldia.

E nessa globalização da rebeldia não só aparecem os trabalhadores do campo e da cidade, senão que também aparecem outros e outras que muito os perseguem e que despreciam pelo mesmo de que não se deixam dominar, como são as mulheres, os jovens, os indígenas, os homossexuais, lesbicas, transexuais, os migrantes, e muitos outros grupos que existem em todo o mundo mas que não vemos até que gritam que já basta de que os despreciem, e se levantam, e pois já os vemos, e os ouvimos, e aprendemos.

E, então, nós vemos que todos esses grupos de pessoas estão lutando contra o neoliberalismo, ou seja contra o plano da globalização capitalista, e estão lutando pela humanidade.

E tudo isso que vemos nos produz grande assombro por ver a estupidez dos neoliberalistas que querem destruir toda a humanidade com sua guerra e explorações, mas também nos produz grande alegria ver que onde seja saem resistências e rebeldias, assim como a nossa que é um pouco pequena mas aqui estamos. E vemos que tudo isso em todo o mundo e já nosso coração aprende que não estamos sós.

 

IV.- DE COMO VEMOS A NOSSO PAÍS QUE É MÉXICO.

Agora falaremos como vemos o que está passando no nosso México. Bom, pois o que vemos é que nosso país está governado pelos neoliberais. Ou seja, que, como já explicamos, os governantes que temos estão destruindo o que é nossa nação, nossa pátria mexicana. E seu trabalho de esses maus governantes não é olhar pelo bem do povo, senão que só estão pendentes do bem estar dos capitalistas. Por exemplo, fazem leis como as do Tratado de Livre Comercio, que passam a deixar em miséria a muitos mexicanos, tanto trabalhadores rurais e pequenos produtores, porque são “comidos” pelas grandes empresas agroindustriais; tanto como os operários e pequenos empresários porque não podem competir com as grandes transnacionais que se metem sem que ninguém lhes diga nada e até lhes agradecem, e põem seus baixos salários e seus altos preços. Ou seja que, como quem diz, algumas das bases econômicas do nosso México, que eram o campo e a indústria e o comercio nacional, estão bem destruídas e apenas ficam uns poucos escombros que com certeza vão vender.

E estas são grandes desgraças para nossa pátria. Porque pois no campo já não se produzem os alimentos, senão só o que vendem os grandes capitalistas, e as boas terras são roubadas com manhas e com apoio dos políticos. Ou seja, que no campo está acontecendo igual que quando o “Porfirismo”, nada mais que, em lugar de fazendeiros, agora são umas empresas estrangeiras as que tem o trabalhador da terra bem oprimidos. E onde antes havia crédito e preços de proteção, agora só há esmolas… E, às vezes, nem isso.

Por sua vez o trabalhador da cidade, as fabricas fecham e ficam sem trabalho, ou se abrem as que se chamam maquiladoras, que são do estrangeiro e que pagam uma miséria por muitas horas de trabalho. E então não importa o preço dos produtos que necessita o povo, porque, ainda que esteja caro ou barato, não se tem o dinheiro. E se alguém trabalhava em uma pequena ou média empresa,  já não, porque se fechou e a comprou uma grande transnacional. E se alguém tinha um pequeno negócio, pois também se desapareceu ou passou a trabalhar clandestinamente para as grandes empresas que os exploram uma barbaridade, e até põem para trabalhar as crianças. E se o trabalhador estava em um sindicato para demandar seus direitos legalmente, pois não, que o mesmo sindicato lhe diz que tem que enfrentar que baixem o salário ou a jornada de trabalho ou eliminam os benefícios, porque, senão, a empresa fecha e vai para outro país. E logo, pois, está isso do “micro negócio”, que é como o programa econômico do governo para que todos os trabalhadores da cidade ponham-se a vender chicletes ou cartões de telefone nas esquinas. Ou seja, que pura destruição econômica também nas cidades.

E, então, o que acontece é, que, como a economia do povo está bem oprimida tanto no campo como na cidade, pois muitos mexicanos e mexicanas tem que deixar sua pátria, ou seja sua terra mexicana, e ir-se buscar trabalho em outro país que é Estados Unidos e aí não os tratam bem, senão que os exploram, os perseguem e os despreciam e até os matam.

Então, no neoliberalismo que nos impõem os mãos governos,  não tem melhorado a economia, ao contrário, o campo está muito necessitado e nas cidades não tem trabalho. E o que está acontecendo é que o México está se convertendo, nada mais, onde se nasce em um momento, e outro momento se morre, os que trabalham para a riqueza dos estrangeiros principalmente dos estadunidenses ricos. Por isso dizemos que o México está dominado por Estados Unidos.

Bom, mas não é só isso, senão que também o neoliberalismo mudou a classe política do México, ou seja aos políticos, porque os fez como se fossem empregados de uma loja, que têm que fazer o possível para vender tudo e bem barato. Vejam que mudaram as leis para eliminar o artigo 27 da constituição e puderam vender as terras familiais e comunais. Isso foi o Salinas de Gortari, e ele e seu grupo disseram que é pelo bem do campo e do camponês, e que assim vai prosperar e viver melhor. Acaso tem sido assim? O campo mexicano está pior que nunca e os camponeses mais oprimidos que quando Porfirio Díaz. E também, disseram que vão privatizar, ou seja, vender aos estrangeiros  as empresas que tinham o Estado para apoiar o bem-estar do povo. Que, porque não funciona bem e falta modernizar-se, que melhor vende-las. Mas, em lugar de melhorar, os direitos sociais que se conquistaram na revolução de 1910, são agora para dar lástima… E raiva. E, também, disseram que se tem que abrir as fronteiras para que entre todo o capital estrangeiro, que assim vão preocupar-se mais os empresários mexicanos e fazer melhor as coisas. Mas agora vemos que já nem tem empresas nacionais, tudo foi comido pelos estrangeiros. E o que vendem está pior que o que se fazia no México.

E, bom, pois agora os políticos mexicanos querem vender a PEMEX, ou seja o petróleo que é dos mexicanos, e a única diferença é que uns dizem que se venda tudo e outros dizem que só se venda uma parte. E também querem privatizar o seguro social, e a eletricidade, e a água, e os bosques, e tudo, até que não fique nada no México e nosso país só seja como um terreno baldio ou um lugar para a diversão dos ricos de todo o mundo, e os mexicanos e mexicanas estejamos como seus criados, pendentes do que eles queiram, mal vivendo, sem raízes, sem cultura, sem pátria, pois.

Ou seja, que os neoliberalistas querem matar a México, a nossa pátria mexicana. E os partidos políticos eleitorais não só não defendem, senão que primeiro que ninguém ,são os que se põem ao serviço dos estrangeiros, principalmente dos Estados Unidos, e são os que se encargam de enganar-nos, fazendo-nos olhar para outro lado enquanto vendem tudo e ficam com o pagamento. Todos os partidos eleitorais que existem no momento, não só uns. Pensem vocês se algo têm feito bem e verão que não, que puros roubos e transas. E vejam como os políticos eleitorais sempre têm suas boas casas e seu bom carro e seus luxos. E ainda querem que lhes demos graças e que outra rodada votamos por eles. E é, portanto, como se diz, não têm mãe. E não a têm porque na verdade não têm pátria, só têm contas bancárias.

E também vemos que cresce muito o narcotráfico e os crimes. E as vezes pensamos que os criminosos são como os apresentam nos corridos ou nos filmes, e talvez alguns são assim, mais não são os grandes chefes. Os grandes chefes andam bem vestidos, têm estudos no estrangeiro, são elegantes, não andam escondidos senão que comem em bons restaurantes e saem nos jornais muito bonitos e bem vestidos nas suas festas, ou seja, que como logo se diz, são “pessoas bem”, e alguns até são governantes, deputados, senadores, secretários de estado, empresários prósperos, chefes de polícia, generais.

Estamos dizendo que a polícia não serve? Não, o que queremos dizer é que essa polícia não serve. E não serve porque não leva em conta o povo, não o escuta, não lhe dá bola, nada mais se aproxima quando tem eleições, e já nem se quer querem votos, já basta com as pesquisas para saber quem ganha. E então pois puras promessas de que vão fazer isso e vão fazer aquilo, e logo, pois anda vamos e não os volta a ver, apenas quando sai nas notícias que já roubaram muito dinheiro e não lhes vão fazer nada porque a lei, que esses mesmo políticos fizeram, os protege.

Porque esse é outro problema, e é que a constituição já está toda manuseada e mudada. Já não é a que tinha os direitos e as liberdades do povo trabalhador, senão que agora estão os direitos e as liberdades dos neoliberalistas para ter seus grandes lucros. E os juízes estão para servir a esses neoliberalistas, porque sempre dão sua palavra a favor deles, e aos que não são ricos, pois ficam com as injustiças, as prisões, os cemitérios.

Bom, pois ainda com todo essa bagunça que estão fazendo os neoliberalistas, há mexicanos e mexicanas que se organizam e fazem a luta de resistência.

E assim nos inteiramos que existem indígenas, que suas terras estão longe daqui de Chiapas, e que fazem sua autonomia e defendem sua cultura e cuidam a terra, os bosques, a água.

E existem trabalhadores do campo, ou seja camponeses, que se organizam e fazem suas marchas e mobilizações para exigir crédito e apoio ao campo.

E existem trabalhadores da cidade que não deixam que lhes tirem seus direitos ou que privatizem seus trabalhos, senão que protestam e se manifestam para que não lhes tirem o pouco que têm e para que não eliminem do país o que é seu por direito, como a eletricidade, o petróleo, o seguro social, a educação.

E existem estudantes que não deixam que privatizem a educação e lutam para que seja gratuita e popular e cientifica, ou seja que não cobrem, que todas as pessoas possam aprender, e que as escolas não ensinem tarugadas.

E existem mulheres que não deixam que as tratem como enfeite o que as humilhem e desprezem por serem mulheres, senão que organizam e lutam pelo respeito que merecem como mulheres que são.

E, existem jovens que não aceitam que os embruteçam com as drogas ou que os persigam por suas maneiras de ser, senão que se fazem conscientes com sua música e sua cultura, sua rebeldia, pois.

E existem homossexuais, lesbicas, transexuais e muitos modos, que não se conformam com que tirem sarro deles, e os despreciam, e os maltratam, e até os matam porque têm outro modo que é diferente, e os tratam de anormais ou delinquentes, senão que fazem suas organizações para defender seu direito a diferença.

E existem sacerdotes e freiras e os que se chamam leigos, que não estão com os ricos nem resignados na rezadeira, senão que se organizam para acompanhar as lutas do povo.

E existem os que chamam lutadores sociais, que são homens e mulheres que toda sua vida passaram lutando pelo povo explorado, e são os mesmo que participaram nas grandes paralizações e ações operarias, nas grandes mobilizações cidadãs, nos grandes movimentos rurais, e que sofreram as grandes repressões, e como queira, mesmo alguns já de idade, seguem sem render-se, e aí anda de um lado a outro buscando a luta, buscando a organização, buscando a justiça, e fazem organizações de defesa de presos políticos e de aparição dos desaparecidos, publicações de esquerda, organizações de professores ou estudantes, ou seja luta social, e até organizações político-militares, e apenas não estão quietos e muito sabem porque muito têm visto, e ouvido, e vivido, e lutado.

E ,assim, em geral, nós vemos que no nosso país, que se chama México, há muitas pessoas que não se deixam, que não se rende, que não se vende. Ou seja, que é digna. E isso nos dá muita alegria porque com toda essas pessoas, pois não tão fácil vão ganhar os neoliberalistas e talvez se se consegue salvar a nossa pátria dos grandes roubos e destruição que fazem. E pensamos que, tomara, nosso “nós” inclua todas essas rebeldias…

 

V.- DO QUE QUEREMOS FAZER.

Bom, pois agora vamos falar o que queremos fazer no mundo e no México, porque não podemos ver tudo o que acontece no nosso planeta e ficar calados, como se só nós estamos onde estamos.

Pois no mundo o que queremos, a todos os que resistem e lutam com seus modos e nos seus países, que não estão sós, que nós os zapatistas, ainda que somos muito pequenos, os apoiamos e vamos ver a maneira de ajuda-los nas suas lutas e de falar com vocês para aprender, porque em si o que temos aprendido é a aprender.

E queremos dizer aos povos latino-americanos que é para nós um orgulho ser uma parte de vocês, ainda que pequena. Que bom que lembramos quando, faz anos, também se iluminava o continente e uma luz se chamava Che Guevara, como antes se chamou Bolívar, porque as vezes os povos agarram um nome para dizer que agarram uma bandeira.

E queremos dizer ao povo de cuba, que já tem muitos anos resistindo em seu caminho, que não está sozinha e que não estamos de acordo com o bloqueio que lhes fazem e que vamos ver a maneira de mandar-lhes algo, ainda que seja milho, para sua resistência. E, queremos, dizer ao povo norte-americano, que nós não confundimos, e sabemos que uma coisa são os maus governos que vocês têm e que passam a prejudicar a todo o mundo, e outra muito diferente são os norte-americanos que lutam em seu país e se solidarizam com as lutas de outros povos. E queremos dizer aos irmãos e irmãs de Mapuche, no Chile, que vemos e aprendemos de suas lutas. E aos venezuelanos que bem que vemos como defendem sua soberania ou seja o direito de sua nação de decidir para onde vão. E aos irmãos e irmãs indígenas do Equador e Bolívia lhes dizemos que nos estão dando uma boa lição de história a toda América Latina porque agora sim que estão pondo um basta na globalização neoliberal. E aos piqueteros e aos jovens da Argentina queremos dizer isso, que os amamos. E aos que, no Uruguai, querem um melhor país, que os admiramos. E aos que estão sem terras no Brasil, que os respeitamos. E a todos os jovens de América Latina, que está bem o que estão fazendo e que nos dá uma grande esperança.

E queremos dizer aos irmãos e irmãs da Europa Social, ou seja a que é digna e rebelde, que não estão sós. Que nos alegra muito seus grandes movimentos contra as guerras neoliberalistas. Que olhamos com atenção suas formas de organização e seus modos de lutar para que talvez algo aprendamos. Que estamos vendo a maneira de apoiá-los em suas lutas e que não vamos mandar euros porque logo se desvaloriza pelo relaxo da União Europeia, mas talvez vamos mandar artesanatos e café para que os comercializem e algo ajude em seus trabalhos para a luta. E talvez mandamos pozol que dá muita força na resistência, mas quem sabe se mandamos, porque o pozol é mais bem do nosso modo e quem sabe lhes prejudica a pança e debilitam suas lutas e os derrotam os neoliberalistas.

E queremos dizer aos irmãos e irmãs da África, Ásia e Oceania que sabemos que também estão lutando e que queremos conhecer mais suas ideias e suas práticas.

E queremos dizer ao mundo que o queremos fazer grande, tão grande que caiba todos os mundos que resistem porque os querem destruir os neoliberalistas e porque não se deixam assim fácil senão que lutam pela humanidade.

Bom, pois no México o que queremos fazer é um acordo com pessoas e organizações de pura esquerda, porque pensamos que é na esquerda política onde está a ideia de resistir-se contra a globalização neoliberal, e de fazer um país onde haja, para todos, justiça, democracia e liberdade. Não como agora que só existe justiça para os ricos, só existe liberdade para seus grandes negócios e só existe democracia para pintar os muros com propaganda eleitoral. E porque nós pensamos que só da esquerda pode sair um plano de luta para nossa pátria, que é o México, não morra.

E, então, o que pensamos é que, com estas pessoas e organizações de esquerda, fazemos um plano para ir a todas as partes do México onde tem pessoas humildes e simples como nós.

E não é que vamos dizer o que devem fazer, ou seja, dar ordens.

Também não vamos pedir que votem por um candidato, que já sabemos que os que tem são neoliberalistas.

Também não vamos dizer que façam igual a nós, nem que se levantem em armas.

O que vamos fazer é perguntar como é sua vida, sua luta, seu pensamento sobre como está nosso país e sobre como faremos para que não nos derrotem.

O que vamos fazer é tomar o pensamento das pessoas simples e humildes e talvez encontramos nela o mesmo amor que nós sentimos por nossa pátria.

E talvez encontramos um acordo entre os que somos simples e humildes e, juntos, nos organizamos em todo o país e pomos de acordo nossa luta que agora está sozinha, separadas umas das outras, e encontramos algo assim como um programa que tenha o que queremos todos, e um plano de como vamos conseguir que esse programa, que se chama “programa nacional de luta”, se cumpra.

E ,então, segundo o acordo da maioria das pessoas que vamos escutar, faremos uma luta com todos, com indígenas, operários, camponeses, professores, empregados, mulheres, crianças, anciãos, homens, e com todo aquele que tenha bom coração e tenha vontade de lutar para que não se acabe de destruir e vender nossa pátria que se chama “México” e que fica entre o rio Bravo e o rio Suchiate, e de um lado tem o Oceano Pacífico e do outro o Oceano Atlântico.

VI- DE COMO VAMOS FAZER.

E, então, está é nossa palavra simples que vai dirigida as pessoas humildes e simples do México e do mundo, e a está nossa palavra de agora a chamamos:

Sexta declaração da Selva Lacandona.

E aqui estamos para dizer, com nossa palavra simples, que…

O EZLN mantem seu compromisso de cesse ao fogo ofensivo e não fará ataque algum contra forças governamentais nem movimentos ofensivos.

O EZLN mantém ainda seu compromisso de insistir na via da luta política com esta iniciativa pacifica que agora fazemos. Portanto, o EZLN seguirá em seu pensamento de não fazer nenhum tipo de relação secreta com organizações político-militar nacionais ou de outros países.

O EZLN referenda seu compromisso de defender, apoiar e obedecer às comunidades indígenas zapatistas que o formam e são seu mando supremo, e, sem interferir nos processos democráticos internos e na medida de suas possibilidades, contribuir ao fortalecimento de sua autonomia, bom governo e melhoras de suas condições de vida. Ou seja, que o que vamos fazer no México e no mundo, vamos fazer sem armas, com um movimento civil e pacífico, e sem descuidar nem deixar de apoiar a nossas comunidades.

 

Portanto…

No mundo…

 

1- Faremos mais relações de respeito e apoios mútuos com pessoas e organizações que resistem e lutam contra o neoliberalismo na humanidade.

2- Na medida de nossas possibilidades, mandaremos apoio material como alimentos, artesanatos para os irmãos e irmãs que lutam em todo o mundo.

Para começar, vamos pedir emprestado à Junta do Bom Governo da Realidade, o caminhão que se chama “Chospiras” e nele cabem parece que 8 toneladas, e vamos enche-lo de milho e talvez dois tambores de 200 litros cada um com gasolina ou petróleo, segundo o que lhes convém, e vamos entregar na embaixada de Cuba no México para que mandem para seu povo cubano como um apoio dos zapatistas para sua resistência contra o bloqueio norte-americano. Ou talvez, há um lugar mais perto para entregar porque está longe até a Cidade do México e quem sabe se estraga o “Chompiras” e vamos ficar mal. E isso, pois, até que saia a colheita que agora está verdeando na “milpa” e se não nos atacam, porque se mandamos nesses meses que vem, puro milho verde mandamos e não chega bem nem em pamonhas, melhor em novembro ou dezembro, segundo.

E, também, vamos fazer acordo com a cooperativas de mulheres dos artesanatos para mandar um bom tanto de bordados às Europas que talvez já não são União, e também talvez mandamos café orgânico das cooperativas zapatistas, para que o vendam e ganhem um pouco de dinheiro para sua luta. E se não se vende pois sempre podem tomar um cafezinho e conversar da luta antineoliberal, e se fez um pouco de frio, cobrem com os bordados zapatistas quem sim resistem bem até aos lavados a mão e pedra e, além disso, não despintam.

E, aos irmãos e irmãs indígenas da Bolívia e Equador também, vamos mandar um pouco de milho não-transgênico, só que não sabemos onde entregar para que chegue seguramente, sim estamos dispostos para dar esta pequena ajuda.

3- E a todos e todas que resistem em todo o mundo lhes dizemos que se tem que fazer outros encontros intercontinentais. Talvez, dezembro deste ano ou janeiro próximo, temos que pensar. Não queremos dizer bem quando, porque se trata de que faremos acordo nivelado em tudo, de onde, de quando, de como, de quem. Mas que não seja de galpão onde uns poucos falam e todos os demais escutam, senão que aberto, puro plano e todos falem, mas em ordem porque se não,  puro barulho, e não se entende a palavra, e com boa organização todos escutam, e assim anotam em seus cadernos as palavras de resistência de outros para que logo cada quem converse aos seus companheiros e companheiras nos seus mundos. E nós pensamos que seja num lugar que tenha uma prisão muito grande porque quem sabe se nos reprimem e nos prendem, e para não estar todos amontoados senão que apenas presos, isso sim, bem organizados, e aí na cadeia damos seguimento no encontro intercontinental pela humanidade e contra o neoliberalismo. Então, aí logo dizemos como faremos para combinar como vamos combinar. Bom, pois assim é como pensamos fazer o que queremos fazer no mundo. Agora segue….

No México…

1- Vamos seguir lutando pelos povos índios do México, mas já não só por eles nem só com eles,  senão que por todos os explorados e despossuídos do México, com todos eles e em todo o país. E quando dizemos que todos os explorados do México também estamos falando dos irmãos e irmãs que tiveram que ir aos Estados Unidos buscar trabalho para poder sobreviver.

2- Vamos ir escutar e falar diretamente, sem intermediários nem mediações, com as pessoas simples e humildes do povo mexicano e segundo o que vamos escutando e aprendendo, vamos ir construindo, juntos com essas pessoas que é como nós, humilde e simples, um programa nacional de luta, mas um programa que seja claramente de esquerda ou seja anticapitalista ou seja antineoliberal, ou seja pela justiça, a democracia e a liberdade para o povo mexicano.

3- Vamos tratar de conseguir ou reconstruir outra forma de fazer política, uma outra volta que tenha o espírito de servir aos demais, sem interesses materiais, com sacrifício, com dedicação, com honestidade, que cumpra a palavra, que o único pagamento seja a satisfação de dever cumprido, ou seja como antes faziam os militantes de esquerda que não paravam nem com golpes, prisão ou morte, muito menos com notas de dólar.

4- Também, vamos ir vendo de levantar; uma luta para demandar que faremos uma nova Constituição, ou seja, novas leis que levem em conta as demandas do povo mexicano como são: teto, terra, trabalho, alimento, saúde, educação, informação, cultura, independência, democracia, justiça, liberdade e paz. Uma nova Constituição, que reconheça os direitos e liberdades do povo, e defenda ao fraco frente ao poderoso.

PARA ISTO…

O EZLN enviará uma delegação de sua direção para fazer este trabalho em todo o território nacional e por tempo indefinido. Esta delegação zapatista, junto com as organizações e pessoas de esquerda que se somem a esta Sexta Declaração da Selva Lacandona, irá aos lugares onde nos convidem expressamente.

Também, avisamos que o EZLN estabelecerá uma política de aliança com organizações e movimentos não eleitorais que se definam, em teoria e prática, como de esquerda, de acordo às seguintes condições:

Não fazer acordos acima para impor abaixo, senão fazer acordos par ir juntos escutar e organizar a indignação; não levantar movimentos que sejam depois negociados nas costas de quem o fazem, senão tomar em conta sempre a opinião de quem participa; não buscar presentinhos, posições, vantagens, postos públicos, do poder ou de quem aspira a ele, senão ir além dos calendários eleitorais; não tratar de resolver desde cima os problemas da nossa nação, senão construir DESDE BAIXO E POR BAIXO uma alternativa à destruição neoliberal, uma alternativa de esquerda para o México.

Sim, ao respeito recíproco à autonomia e independência de organizações, a suas formas de luta, aos seus modos de organizar-se, aos seus processos internos de toma de decisões, a suas representações legítimas, as suas aspirações e demandas; e sim a um compromisso claro de defesa conjunta e coordenada da soberania nacional, com oposição intransigente as tentativas de privatizações da energia elétrica, o petróleo, a água e os recursos naturais.

Ou seja, que, como se diz, convidamos às organizações políticas e sociais de esquerda que não tenham registro, e às pessoas que se reivindiquem de esquerda que não pertençam aos partidos políticos com registro, a reunirmos em tempo, lugar e modo que lhes proporemos em sua oportunidade, para organizar uma campanha nacional, visitando todos cantos possíveis da nossa pátria, para escutar e organizar a palavra do nosso povo. Então é como uma campanha, mas muito outra porque não é eleitoral.

Irmãos e irmãs:

Esta é nossa palavra que declaramos:

No mundo vamos irmanarmos mais com as lutas de resistência contra o neoliberalismo e pela humanidade.

E vamos apoiar, ainda que seja um pouco, essas lutas.

E vamos, com respeito mútuo, intercambiar experiências, histórias, ideias, sonhos.

No México, vamos caminhar por todo o país, pelas ruinas que deixou a guerra neoliberal e pelas resistências que, atrincheiradas, nela florescem.

Vamos buscar, e encontrar, alguém que ame a estes solos e a estes céus ,  sequeira tanto como nós.

Vamos buscar, desde La Realidad até Tijuana, a quem queira organizar-se, lutar, construir acaso a última esperança de que esta nação, que leva andando ao menos desde o tempo em que uma águia se pós sobre um cacto para devorar uma serpente, não morra.

Vamos por democracia, liberdade e justiça para aqueles que nos são negadas.

Vamos com outra política, por um programa de esquerda e por uma nova constituição.

Convidamos aos indígenas, operários, camponeses, professores, estudantes, donas de casa, colonos, pequenos proprietários, pequenos comerciantes, micro empresários, jovens, mulheres, anciãos, homossexuais e lesbicas, crianças, para que, de maneira individual ou coletiva participem diretamente com os zapatistas nesta CAMPANHA NACIONAL para a construção de outra forma de fazer política, de um programa de luta nacional e de esquerda, e por uma nova Constituição.

E pois esta é nossa palavra do que vamos fazer e de como vamos fazer. Aí vejam se é que querem entrar.

E dizemos aos homens e mulheres que tenham bom seu pensamento em seu coração, que estejam de acordo com esta palavra que dizemos e que não tenham medo, ou que tenham medo mas que o controlem, pois que digam publicamente se concordam com esta ideia que estamos declarando e pois assim vamos vendo de uma vez quem e como e em onde e quando é que se dá este novo passo na luta

Por enquanto o pensem, dizemos que, hoje, no sexto mês do ano de 2005, os homens, mulheres, crianças e anciãos do Exército Zapatista de Libertação Nacional já dizemos e já subscrevemos esta Sexta Declaração da Selva Lacandona, e assinaram os que sabem e os que não puseram sua digital, mas já são menos os que não sabem porque se avançou a educação aqui neste território em rebeldia pela humanidade e contra o neoliberalismo, ou seja em céu e terra zapatistas.

E esta foi nossa simples palavra dirigida aos corações nobres das pessoas simples e humildes que resistem e se revelam contra as injustiças em todo o mundo

DEMOCRACIA!

LIBERDADE!

JUSTIҪA!

DESDE AS MONTANHAS DO SUDESTE MEXICANO.

Comitê Clandestino Revolucionário Indígena – Comandância Geral do Exército Zapatista de Libertação Nacional, no mês sexto, ou seja junho, do ano de 2005.

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