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Palabra del Ejército Zapatista de Liberación Nacional

May022021

Ontem: Teoria e Prática.

Do caderno do Gato-cachorro:

Ontem: Teoria e Prática.

Uma assembleia em um povoado em uma das montanhas do sudeste mexicano. Devem correr os meses de julho-agosto de um ano próximo, com a pandemia do coronavírus dominando o planeta. Não é uma reunião qualquer. Não só pela loucura que lhes convoca, mas também por causa do evidente distanciamento entre as cadeiras, e porque as cores das máscaras e opacam por trás da umidade das máscaras transparentes.

Estão ali os comandantes político-organizativos da EZLN. Também estão alguns comandantes militares, mas permanecem em silêncio, a menos que sejam convidados a falar sobre um ponto específico.

Há muito mais deles do que se poderia esperar. Existem ali pelo menos 6 línguas originárias, todos eles de raiz maia, e usam o espanhol ou «la castilla» como uma ponte para se entenderem.

Vários dos ali presentes são «veteranos», estiveram no levante que iniciou em 1º de janeiro de 1994 e, com as armas na mão, desceram às cidades junto com milhares de outros companheiros e companheiras, como mais um, mais uma. Há também «os novos», homens e mulheres que foram incorporados à liderança zapatista depois de muitos aprendizados. A maioria «dos novos» são mulheres «novas» de todas as idades e de línguas diferentes.

A assembleia em si, seu desenvolvimento, seus tempos, seus modos, reproduzem as assembleias se realizam nas comunidades. Há alguém que coordena a reunião, que dá a palavra e indica os tópicos a serem discutidos, que foram acordados de antemão. Não há limite de tempo para cada intervenção, portanto, o tempo assume aqui um ritmo diferente.

Alguém, agora mesmo, está contando uma história, um conto ou uma lenda. Ninguém se importa se o que está sendo dito é fato ou ficção, apenas o que se diz com esse recurso.

A história é assim:

Um homem zapatista está caminhando por um povoado. Ele está vestido com suas melhores roupas e seu novo sombrero porque, diz ele, vai buscar sua namorada. O narrador imita o passo e os gestos que viu em algum dos filmes que circularam como resultado do Festival de Cinema «Puy Ta Cuxlejaltic I»(1). A assembleia ri quando, quem conta a história, faz o tom do Cochiloco (interpretado por Joaquín Cosío em «El Infierno», Luis Estrada, 2010), e tira seu sombrero para saudar uma mulher imaginária que passa por ele com uma imaginária mula carregando idêntica lenha. O contador da história mistura o espanhol com um dos idiomas maias, assim, na assembleia, sem interromper, eles traduzem um para o outro.

Quem narra o conto lembrou que é tempo de elote (2), a assembleia acena com a cabeça em confirmação. Segue a narração:

O homem de sombrero encontra um conhecido, eles se cumprimentam um ao outro. «Ei, não te reconheci com esse sombrero tão bonito«, diz o conhecido. O homem responde: «É que eu vou buscar minha namorada«. O outro: «E qual é o nome de sua namorada e onde ela mora?” O do sombrero: «Bem, eu não sei«. O outro: «Como que não sabe«? O de sombrero: «Bem, é por isso que eu disse que estava buscando por ela, eu a encontrei, já sei seu nome e onde ela mora«. O outro avalia por um segundo essa lógica contundente e assente em silêncio.

É a vez do de sombrero: «E o que você está fazendo? O outro responde: «Estou plantando milho porque quero elote«. O de sombrero permanece em silêncio por um tempo, observando como está o outro, com uma vassoura, cavando buracos no meio da estrada de cascalho. O de sombrero: «Ouça compadre, com todo respeito, mas você é um verdadeiro idiota«. O outro: «E por que? Estou realmente trabalhando duro e estou determinado a comer elote«.

O de sombrero se senta, acende um cigarro e o passa para o outro, e acende mais um para si mesmo. Não parecem ter pressa: nem o de sombrero para encontrar uma namorada, nem o outro para comer elote. A tarde vai se alargando e, pouco a pouco, vai rasgando um pouco a luz da noite. Ainda não está chovendo, mas o céu começa a formar nuvens cinzas para cobrir-se. A lua espreita atrás das árvores. Depois de um longo silêncio, o de sombrero explica:

«Pois veja compadre. Vamos ver se você me entendeu: antes de tudo, está o terreno. O milho não vai crescer nessa área rochosa. Aí a semente vai morrer com tanto pisoteamento e não terá onde se enraizar. A semente vai morrer, vai morrer. E então sua vassoura, você a usa como enxada, mas a vassoura é vassoura, e a enxada é enxada, por isso a pobre vassoura já está toda quebrada e remendada«.

O de sombrero pega a vassoura, verifica os remendos que, com fita adesiva e fita, o outro fez com ela, e continua: «Já nem ligo para o compadre, caso minha comadre te visse danificando assim a vassoura dela, ela te expulsaria para dormir no monte«.

Segue: «então a milpa (3) não está onde, compadre, não com o que quer que seja, mas tem seu onde e tem seu com o que. Além disso, não tempo de fazer a milpa agora, agora é a hora da colheita. E para que tenha colheita, é porque você já trabalhou duro com a milpa. Ou seja, a terra não é que «estou velho, dê-me meu pozol (4) e minhas tortilhas», que é como você gritava com a comadre, – bem, até que ela se reuniu como mulheres que somos e foi embora, os gritos pararam -, mas isso é por sua conta, compadre. O que estou lhe dizendo é que você não dá ordens à Terra, mas explica a ela, fala com ela, honra-a, conta-lhe histórias para que ela se alegre. E não é apenas a qualquer momento que a Terra ouve, mas tem, por assim dizer, seu calendário. Quer que tenha que contar os dias e noites, e olhar a terra e o céu para ver quando colocar a semente«.

«Então aí está, por assim dizer, o problema. Porque você falha em tudo, e você quer isso só porque trabalhou muito e está muito determinado, vai conseguir o que quer. O que você precisa é de conhecimento. As coisas não saem só por causa de muito trabalho e muita decisão, mas que escolha um bom terreno, depois as ferramentas próprias para isso, depois o tempo para cada parte do trabalho. Então, como dizem, quer a teoria e a prática com conhecimento, e não os absurdos que está fazendo, do qual deveria se envergonhar porque todos estão olhando para você e rindo«.

«E os bobos que sorriem não percebem que as coisas estúpidas que você faz também os afetarão, porque bem onde você está cavando, primeiro será inundado, depois a água fluirá e criará riachos como as rugas da sua avó compadre, que a minha já está no céu. E assim o carro da Junta de Bom Governo não poderá entrar, porque ficará preso, e os materiais ou mercadorias que ele carrega terão que ser descarregados à mão, sobre seus ombros, e entrar nos riachos danificará suas botas e calças, ainda mais se estiverem vestidos como eu estou agora, e nunca vão encontrar uma namorada. E as companheiras, pior ainda, compadre, porque elas são bravas. Vão passar ao seu lado, com um burro carregando suas coisas, e dirão: «Existe alguém que é mais teimoso que meu burro, e mais estúpido«. E vão dizer: «Ouça, quando eu disser «vamos lá, maldito burro», não se ofenda, eu estou falando com meu animalzinho«.

«O que aconteceu, compadre, está me ofendendo?«, diz o outro indignado.

O de sombrero: «Não, só estou lhe dizendo. Tome-o como conselho ou orientação, não é uma ordem. Mas, como o falecido Sup costumava dizer: «é melhor você fazer o que eu lhe digo, porque se não fizer, quando der errado eu vou dizer «Odeio dizer que eu lhe disse, mas eu lhe disse». Então me escute compadre«.

O outro: «Então este terreno não serve? Nem minha enxada? Nem mesmo o tempo?«

O de sombrero: «não, não e não«.

«E quando é a seu tempo, então?«

«Oops, já passou. Agora você tem que esperar por outra rodada. Por volta de abril, maio, e para que não falte água, o dia 3 de maio quer que seja dado à terra seu pão, uma bebida para o calor, talvez um cigarro de folhas, suas velas, e que também colha suas frutas e vegetais e até mesmo sua sopa de frango. O falecido Sup disse que só com abóbora não, que se você der abóbora para a terra, ela fica brava e joga uma cobra para fora. Mas acho que isso foi uma mentira do falecido Sup, ele disse isso porque não gostava de abóbora«.

 

«Então quando?«

«Hmm, agora você vai ver: já estamos como dizem quase em outubro, portanto seis meses. Assim, em abril-maio. Mas depende«.

«Muito bem, e agora, como faço se quiser milho agora mesmo?«. O outro continua pensando e, de repente, ele acrescenta: «Eu sei como! Vou pedir um pouco de milho emprestado à autoridade autônoma«.

O de sombrero: «E então como você vai repor a autoridade?«

«Ah, bem, vou pedir emprestado à Junta e com isso lhes reponho». E para reabastecer a Junta, peço emprestado aos Tercios (5). E para repor aos Tercios tomo emprestado novamente da autoridade, finalmente você saberá que eu pago«.

O de sombrero, coçando sua cabeça. «Droga compadre, agora, como naquele filme do Vargas, você acabou sendo mais um canalha do que bonito. Se você pensa assim, como os maus governos, deveria ser um deputado, ou um senador ou o governador ou algum desses babacas”.

 «O que aconteceu, compadre? Eu sou apenas resistência e rebeldia. Vou ver o que posso fazer”.

O de sombrero: «Bem, então eu vou porque se não for, não vou encontrar uma namorada». Nos vemos, compadre«.

A outra: «Vá com Deus, e se você encontrar uma namorada, pergunte-lhe se sua família não tem milho para me emprestar, que logo reponho«.

O contador da história se volta para a assembleia: «Então, o que é melhor: emprestamos elotes ao compadre ou deixarmos que a teoria e a prática o façam com conhecimento«?

-*-

Chegou a hora do pozol. A assembleia se dispersa, o Sup Galeano, apenas por capricho, diz ao Subcomandante Moisés: «Eu só gosto de pipoca pura» e se dirige para sua cabana. O Subcomandante Moisés lhe responde: «E molho picante também…«. SupGaleano não responde, mas muda de direção. «Para onde você está indo?» pergunta o SubMoy. O Sup, se distanciando, quase grita: «Vou pegar o molho emprestado da lojinha das Insurgentas«.

Dou fé.

Miau-au.

 

O Gato-cachorro, um ilegal em La Montaña.

(Ah bem, ele não tinha dinheiro e, além disso, há uma placa na entrada de La Montaña que diz: «Não são permitidos gatos, cães… ou besouros esquizofrênicos»).

 

México, todavia.

Abril de 2021.

 

 

– – – – – – – – – – –

 

(1) Puy ta Cuxlejaltic: «O caracol de nossas vidas». Em novembro de 2018, o primeiro festival de cinema Zapatista com o mesmo nome, foi realizado no Caracol de Oventik.

(2) Elote: milho mexicano

(3) Milpa é uma forma de plantio milenar pré-colombiana que combina a plantação de milho, abóbora e feijão em um mesmo território, criando um ciclo de ajuda mútua entre estas plantas.

(4) Pozol: bebida feita de pasta de milho, água e sal.

(5) Tercios refere-se aos Tercios Compas: os coletivos de mídia Zapatista.

 

 

El Mariachi Renacimiento del Caracol de Roberto Barrios.

Jovena base zapatista despide a la delegación marítima zapatista.

Música: Santiago Feliú, interpretando «Créeme» de Vicente Feliú.

 

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